domingo, 9 de agosto de 2009

Greve da PM?

Daniela Pereira e Tatiana Ribeiro

Cerca de 30 mil policiais militares do Estado da Bahia decidiram em assembleia, na sede do Clube dos Oficiais, localizado na Avenida Dendezeiros, na manhã de ontem, dar início à “Operação Polícia Legal”. Após a reunião, militares saíram em caminhada em direção à sede da Rondesp, no Terminal de São Joaquim, Calçada.
Com faixas e cartazes, cerca de 400 militares pediram que os comerciantes fechassem as portas, avisando que não haverá mais polícia nas ruas. Os policiais exigem o cumprimento de cinco solicitações: aumento de salário de R$ 1,6 mil para R$ 4 mil baseado no salário do policial da cidade de Brasília, melhores condições de trabalho, nível superior para concurso, reintegração dos sete oficiais demitidos por participarem da greve de 2001 e pagamento retroativo relativo à mesma greve (URV).
“Essa é a terceira assembleia que realizamos. O relatório contendo as reivindicações já foi enviado para a Secretária de Segurança Pública e até agora não obtivemos respostas. Nosso salário é uma vergonha. Ganhamos a metade de um policial militar lotado em Aracaju. Queremos direitos iguais”, comparou Marcos Maurício Prisco, presidente do Sindicato de Soldados e Praças da PM. Em entrevista concedida à imprensa local na manhã de ontem, o comandante geral da PM, Nilton Mascarenhas, já havia declarado que a greve não acontecerá.
De acordo com o soldado Alberto Falcão, em 25 anos de corporação, nunca viu a Polícia Militar em uma situação caótica. “Trabalhamos com vinte reais de combustível por dia, apenas 15% dos nossos coletes a prova de bala estão dentro do prazo de validade, estamos com munições e armamento defasado. A polícia deveria ser unificada. Não pode haver a rivalidade entre as polícias civil e militar”, concluiu.
O soldado A.B.Z, 47 anos, morador da Fazenda Grande do Retiro, reclama do salário e da dificuldade de moradia. Em 27 anos de profissão, ele já foi baleado duas vezes dentro da própria residência. “Escapei da morte por pouco e não tive recompensas por isso”, desabafou.

Boatos deixam população em pânico

No final da manhã de ontem, muita gente já temia o agravamento da situação, caso a polícia realmente saísse das ruas, confirmando boatos. Segundo o comerciante Cláudio Correia, 50 anos, a situação iria piorar. “Se com a polícia os bandidos agem sem medo. Imagine com a greve. Somente este ano, já fui vítima de assalto em meu estabelecimento por duas vezes. Durante o período da greve não vou abrir minha loja. Temo pela minha vida”, garantiu o comerciante.
Para o estudante Jonas de Jesus, 20 anos, ficará difícil frequentar a faculdade no período da noite. “Saio da aula muito tarde e não me arriscarei a pegar um ônibus e ser assaltado. Mas qualquer manifestação é válida para garantir o bem-estar do trabalhador. O policial se arrisca muito para o pouco que ganha”, defendeu o estudante.
Por volta das 18 horas de ontem, o trânsito parou na região do Iguatemi e Paralela. A corrida para casa fez com que muita gente demorasse até uma hora a mais para chegar ao destino, devido ao fluxo de veículos e antecipação do fechamento de estabelecimentos por toda a cidade.

Moradores temem nova paralisação

A última greve deflagrada em julho de 2001, causou pânico, insegurança e anarquia nas ruas da cidade. Em apenas um dia, seis agências bancárias, dezenas de lojas e 40 ônibus foram assaltados. O índice de homicídio triplicou de 3 para 10 registros em 24 horas. Durante o período, outras categorias também entraram em greve temendo a insegurança nas ruas. Os detentos da Penitenciária Lemos de Brito (PLB) permaneceram por cinco dias sem banho de sol, já que não havia policiamento. A situação só melhorou com a convocação do exército para fiscalizar os bairros da cidade. Moradora do bairro da Pituba, a cabeleireira Silvana Cardoso, contou que presenciou um arrastão em frente à Corregedoria da PM. “Só iria trabalhar porque morava perto. O salão era trancado. Homens de moto assaltavam pedestres em plena a luz do dia”, declarou. A dona de casa, Luciana dos Santos, 25 anos, passou por um sufoco na época da greve. “Meu filho, que tinha oito meses, ficou doente e não tinha condições levá-lo ao médico. Tive que medicá-lo em casa mesmo. Espero que dessa vez não seja assim também”, relatou.
O ano de 2001 ficou marcado na memória de muitos. Arrastões, saques, homens armados em plena luz do dia espalhados por vários pontos da cidade, distribuíram medo e terror na capital. Em relação aos prejuízos para a população de um movimento similar, Marcos Prisco, presidente do sindicato da categoria, descartou algo nos moldes dos acontecimentos de 2001. “Sabemos que a população é a mais atingida, mas também precisamos reivindicar os direitos da categoria, que estão defasados. Não queremos deixar a sociedade em pânico como aconteceu na greve de 2001, mas estamos decididos a parar até que nossa situação seja resolvida.”, concluiu.

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