sábado, 27 de junho de 2009

Violência e prostituição na Orla de Salvador


Daniela Pereira

A partir do final da tarde, a Orla de Salvador se transforma. Na calçada, mulheres desfilam e como se fossem estrelas de um grande espetáculo. Assim se pode montar o palco da madrugada na Pituba, Amaralina e Barra, por exemplo. Frequentada por clientes de todos os tipos, que buscam sexo, rápido, fácil e descomprometido, as boates e as calçadas contam com a serventia de “garotas” (sejam mulheres ou transexuais) bonitas e provocantes. Seus serviços, que consistem conceitualmente no “comércio sexual com retribuição monetária e indiferença pessoal”, são solicitados na maioria das vezes por jovens e homens entre 25 e 50 anos. Além de conviverem com o desprezo e discriminação da sociedade, as prostitutas são mulheres sujeitas a agressões de todo tipo. De acordo com a Rede Brasileira de Prostituição (RBP), associação que representa profissionais do sexo, as garotas que trabalham nas ruas sofrem violências, na maioria das vezes, de clientes jovens da classe média. Recusa por parte dos clientes ao uso do preservativo, o consumo de álcool e drogas são os fatores mais comuns para ocorrência de agressões, sejam físicas ou verbais. Em boates, os seguranças parecem estar atentos a tudo o que se passa dentro da “casa” durante o show. De acordo com o ex-segurança de uma boate, Luiz Cabral Borges, 30 anos, os guarda-costas são pagos para preservar o local e a integralidade física dos clientes e das garotas. “Se elas resolverem sair com os clientes, a casa não se responsabiliza em nada”, afirma.

Vida noturna invade bairros nobres

A prostituição está distribuída e evidenciada em pontos da cidade, como Barroquinha, Pelourinho, Carlos Gomes, Barra, Amaralina, Pituba, entre outros. Os locais servem de cenário para sexo, bebida e violência. Muda o ambiente, mas não a realidade. Um soldado da 11ª Companhia da Polícia Militar da Bahia afirma que a polícia é paga para proteger os cidadãos. “O que acontecer aqui na Barra, elas sabem que podem contar conosco, é nossa obrigação, não importa se é branco ou preto, prostituta ou não”, garante. Essa afirmação contradiz as estatísticas, ainda não oficializadas, de violência voltada às mulheres prostituídas e histórias contadas pelas vítimas. Uma delas é Jane (nome fantasia), uma morena de baixa estatura, conhecida como “Baixinha”. Ela conta que, por diversas vezes, teve seu dinheiro tomado pelos próprios policiais. “Se a gente não der, eles xingam e querem até bater em nós”, disse. Jane guarda no corpo as marcas da agressão que sofreu de um turista argentino. Embriagado o visitante se negou a pagar o programa e, após trocas de ofensas, deu-lhe um soco no olho esquerdo, deixando como “pagamento” uma cicatriz no supercílio. Segundo especialistas, o passaporte para o círculo da prostituição acontece devido a fatores psicológicos e sociais. Algum trauma de infância, mais precisamente violência doméstica, a família desestruturada, a esperança de uma vida melhor e mais fácil, precipitações pessoais e outros elementos. Jane tem 22 anos e está na prostituição desde os 17 anos. Aos 15 anos resolveu sair de casa e “fugir” com o namorado, já que sua mãe não aceitava sua gravidez precoce. “Ela me enchia, gostava de falar de tudo. Aí eu explodia e era só briga mesmo”, completa.Prostitutas ocupam lugares desertos e de pouca iluminação, propícios a ocorrer atos violentos sem testemunhas. Elas estão em grupos para o caso de uma eventualidade.

Problemas familiares levam às ruas

Baixinha pertence ao grupo que entrou no ramo da prostituição por rebeldia. O relacionamento com o namorado durou cerca de dois meses após sua saída de casa. A criança nasceu e hoje se encontra aos cuidados da avó materna. Como não queria voltar para a mãe, fez do Porto da Barra seu “ponto” de prostituição. “Se eu voltar pra casa agora como eu sou, (refere-se ao fato de ser prostituta) aí é que ela vai me esculachar mesmo”, afirma a garota.M.F., 34 anos, é mãe de três filhos menores de idade. Durante cinco anos desempregada, trabalhou alguns meses em uma Lan House faturando R$ 200,00 por mês. Como o dinheiro não dava para as despesas, voltou ao local do seu primeiro emprego, só que, dessa vez, como prostituta. Há nove anos na Orla de Salvador, M.F. conta que já viu de tudo e já passou por três vezes por traumáticas experiências de violência. “Cheguei uma vez em casa com o rosto inchado de um tapa que levei de um ‘playboizinho’ com idade de ser meu filho e tive que dizer pra minha filha mais velha que escorreguei lavando o chão de casa”, conta. M.F. diz que desrespeito e situações de risco estão presentes no dia-a-dia das prostitutas. “Eu acho que eles pensam que só porque estão pagando podem fazer o que quiserem com a gente, mas não é assim não”, protesta.De acordo com a socióloga Mônica Coutinho, o preconceito contribui para a exclusão social. “A forma como a sociedade, de modo geral, estereotipa essas mulheres é algo completamente relacionado ao campo da moral. O que tem a ver também com a questão da religião, no nosso caso a católica, que abomina totalmente a questão da prostituição, ou seja, reforçando a exclusão”, afirma a socióloga. A especialista ainda completa que como a maioria dos homens é machista, na nossa sociedade, se sentem no direito de agredi-las.
Porém, Borges conta que quando as garotas iam sair da boate com algum cliente, muitas vezes, pagavam um táxi para ele as seguir e proteger, como uma espécie de segurança particular. “Teve um dia que tive que ‘bafar o cara’ pela camisa, ou então não tinha dinheiro, nem pra mim e nem pra ela”, conta o ex-segurança, referindo-se a um cliente que não queria pagar o programa e ao dinheiro que recebera pelo serviço particular, cerca de R$ 30,00 e um lanche para esperá-la.

Histórias repletas de mistérios

Sempre de calça jeans, sapato de salto alto, sombra azul ou verde, de volume um tanto quanto exagerado, lápis de olho preto e uma bolsa grande de couro. É assim que *Aline, uma bela jovem de 28 anos, sai para trabalhar sempre às 8 horas da manhã, arrancando suspiro dos marmanjos e também o desdém de mulheres. Mais conhecida no ambiente de trabalho como Tati, *Aline batalha para tirar seu sustento e do filho de 5 anos, um garoto agitado que cobiça tudo que vê na televisão. Numa tentativa de melhorar de vida, perambula em carros de homens estranhos e motéis em diferentes rotas de Salvador, mas na maioria das vezes permanece nos quartos da “casa” onde trabalha localizada no centro da cidade, mas precisamente num bairro movimentado pelo comércio, a Barroquinha. Visando apenas o dinheiro pago após sua hora de serviço, que custa R$ 30,00 dependendo da negociação, não se arrisca a trabalhar nas ruas, prefere uma casa, onde segundo ela, “está para o que der e vier sem medo de ser feliz”. Ao lembrar da sua infância e adolescência ela conta que sonhava em ser professora e teve essa meta interrompida aos 16 anos, quando engravidou e pela primeira vez provocou uma morte através de remédios abortivos comprado pelo pai da criança, um homem casado de 32 anos. A família nunca soube desse episódio, que a jovem revela não se arrepender “nem um pingo”. Temendo a rejeição dos conhecidos, o pai mandou-a de mala e cuia para morar com a madrinha em Salvador, uma experiência que mudou completamente sua vida, pois o marido da madrinha passou a relacionar-se com ela nas horas em que a esposa não estava. Demorou quase três anos para que a madrinha descobrisse e os colocassem para fora de casa. Segundo ela, foi uma fase muito difícil, pois não tinha para onde ir. Em seguida, arranjou um emprego numa famosa e extinta Casa de Massagem. *Aline trabalhou no local durante três anos e fez sucesso com os clientes e com *Alex, filho do dono da casa, um garoto de 19 anos. Juntos, viveram como um casal de namorados, tudo ia bem a não ser por um pequeno detalhe: pela primeira vez Aline* misturou trabalho com sentimentos. "Se ele não fosse tão infantil estaríamos juntos até hoje e se ele quisesse até arrumaria um emprego melhor”, lamenta a moça cheia de saudades no olhar e na voz. Depois de quatro meses de namoro veio a gravidez. Dessa vez preferiu que a criança viesse ao mundo, até pensou em ter uma família. Aos poucos a realidade foi tomando espaço na vida da garota. O sogro cansou de ajudar no sustento do neto iniciou uma verdadeira guerra com a jovem. *Aline teve que abandonar a Casa de Massagem e separar-se de *Alex. Meses depois conheceu um homem tímido e tranqüilo, que se tornou marido. Começou a trabalhar no atual emprego, um bordel que funciona em cima de uma loja de roupas na Barroquinha, lugar que segundo ela é ótimo, “não poderia ter arrumado um lugar melhor, tem muita organização, em primeiro lugar somos nós depois os clientes”, afirma orgulhosa. Casada há 3 anos, hoje ela vive à sua maneira. Mora em uma casa com quarto, sala, cozinha e banheiro, com aluguel no valor de R$190. O dinheiro que recebe do trabalho, juntamente com o do marido, paga as despesas, o colégio do filho que custa R$70. Como mulher vaidosa que é, adora comprar roupas, peças íntimas e maquiagens. Assim é *Aline uma mulher simpática que ama sua família, é apaixonada pelo marido e pelo filho. E seus segredos são algo que todos temos.

Um comentário:

  1. oi eu sou menina de programa da orla da pituba,estamos sim sujeito a tudo em pleno 1 de dezembro de 2012 eu sair com um motoquero para o piramide dali mesmo e ele me usou primeiro com camisinha só que viu que ele estava armado aproveitou e logo me ameaçou de morte se eu ñ deixasse ele tirar a camisinha e por sima gozar dentro ,tive que aceitar se ñ eu iria morrer ali mesmo ,logo em seguida comprei a pilula do dia seguinte e estou esperando completar tres meses pra fazer o texte do hiv e pesso a deus que tudo corra bem pra mim daqui por diante.

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